Grupo de História das Populações

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FARIA, Inês Martins - Santo André de Barcelinhos: o difícil equilíbrio de uma população 1606-1910

A autora observou o crescimento da população de Barcelinhos e a sua dispersão pelo território da paróquia de Santo André de Barcelinhos durante cerca de 300 anos, constatando uma mudança de centro desta paróquia ocorrida com a transição da igreja matriz do lugar de Mareces para o do Souto.

Com a reconstituição de famílias, o trabalho revela o povoamento intenso das ruas, mais que o dos lugares, pela proximidade para com a ponte, ou seja, com a vila de Barcelos. O levantamento permitiu concluir que Santo André de Barcelinhos, desde o século XVII, era essencialmente uma paróquia de artífices. As actividades ligadas à terra não eram referidas, embora a autora deduza que tenham existido, pela falta de referência às profissões. Sapateiros, ferreiros e ferradores eram os profissionais mais assinalados, para os meados do séc. XVII. Cem anos depois, os ferreiros continuam a marcar fortemente a sua presença, mas os carpinteiros começam a ganhar projecção.

O leque sócio-profissional começa a abrir-se no século XIX, marcando maior presença os carpinteiros e tamanqueiros e, para o final do século, os serralheiros assumirem uma posição de destaque. Havendo já a referência às actividades ligadas à terra, foram contados para 1870, 15 lavradores e 4 jornaleiros, chefes de família. A presença de outros profissionais - negociantes, farmacêuticos, escreventes, cantoneiros, etc - mostra já uma grande diferenciação social. No início do século XX, a diversidade é ainda maior - surgem os militares de carreira, os guardas fiscais, os funcionários de vários serviços - e pela primeira vez são mencionados os mendigos.

Entre os profissionais mais alfabetizados, a partir do final do século XIX, para além dos escreventes, contam-se os negociantes, os lavradores e os artífices - carpinteiros, barbeiros, alfaiates, moleiros e serralheiros. No caso das mulheres, distinguem-se as domésticas, as costureiras e as proprietárias. No entanto, os indivíduos de outras paróquias que residiam nesta de Barcelinhos eram mais alfabetizados do que os naturais.

Barcelinhos funcionou desde sempre como uma paróquia bastante atractiva para aqueles cujas actividades económicas e/ou profissões se teriam de desenrolar num ambiente urbano. Certamente que, não havendo em Barcelos as condições ideais de alojamento, Barcelinhos estava ali perto, da outra margem do rio, com grandes espaços abertos para proporcionar o acolhimento necessário: simultaneamente, indivíduos naturais desta paróquia buscavam noutras a satisfação das necessidades de casamento e/ou trabalho.

Por isso, uma paróquia com tal abertura ao exterior teve de adaptar os seus comportamentos demográficos de modo a prevalecer o equilíbrio mesmo em tempos de ruptura.