Grupo de História das Populações

Investigadores Projecto Espaços Urbanos

 

 PAIVA, Odete - S. Martinho de Avidos - Comunidade Rural do Vale do Ave: Demografia e Sociedade (1599-1995)

 O objecto deste estudo é a reconstituição da comunidade rural de S. Martinho de Avidos, freguesia do Baixo Minho (Vale do Ave), concelho de Vila Nova de Famalicão. Recorrendo ao método de reconstituição de paróquias da autoria de Norberta Amorim, a autora utilizou como fontes os registos dos actos vitais ( nascimentos, casamentos e óbitos), numa base sempre aberta a outras fontes.

Através do conhecimento das variáveis demográficas e da interconexão das mesmas, por cruzamento com outras fontes quer eclesiásticas, quer civis, conseguiu a caracterização demográfica e social da paróquia, numa análise microanalítica em longa duração (1599-1995), utilizando procedimentos de matriz quantitativa e qualitativa.

Verificou-se para o Antigo Regime Demográfico, uma alta idade ao primeiro casamento para ambos os sexos, e um elevado celibato definitivo marcadamente feminino, comportamentos esses que se foram esbatendo à medida que se caminhava no tempo. Até aos anos trinta do século XX, na maioria das uniões registadas pela Igreja, os noivos ou são da mesma idade ou ele é mais velho. Depois dessa data, o grosso dos casamentos é entre indivíduos da mesma idade. Poucos são os recasamentos, e quando estes se verificam são os viúvos a levar a palma às viúvas, num mercado matrinomial deficitário para o sexo feminino.

Para além da nupcialidade, Avidos teve na fecundidade outro elemento equilibrador entre recursos e população. O número de filhos por família fecunda, para o período pré-malthusiano foi de cinco, enquadrando-se na matriz das sociedades pré-industriais, com uma descida do número de filhos para o período em que contamos com os efeitos do birth control, que pensamos andar nesta comunidade por volta dos anos trinta.

As concepções pré-nupciais ocorreram com maior significância no século XIX e XX, e se algumas destas relações fora do matrimónio tiveram como epílogo o casamento, muitas deram origem a famílias monoparentais.

Um pequeno número de crianças baptizadas em Avidos foi exposto na freguesia. Pensamos que muitas das crianças abandonadas o terão sido na Roda, nomeadamente, de Santo Adrião - Vila Nova de Famalicão.

A Igreja através das devassas foi introduzido elementos que procuraram dissuadir os cristãos de comportamentos irregulares, nem sempre o conseguindo, mormente, no que respeita às transgressões da moral sexual, fruto de uma estrutura social em que a família ideal nem sempre era possível.

Comunidade em que a posse da terra era até tempos bem próximos sinal de diferenciação social, e em que esta estava desigualmente distribuída, com um pequeno número de possidentes, a emigração constituiu-se como elemento equilibrador para a colmeia humana do Minho, verificando-se que em Avidos foram os filhos dos menos abastados a deixar em maior número a sua terra, (embora só possamos contar para este estudo com a emigração legal através dos passaportes).

A morte foi relativamente suave para os Avidenses, havendo, contudo, médias e pequenas crises de mortalidade, com uma sazonalidade ao óbito que dependia da idade e do tempo. A mortalidade infantil registou-se primordialmente até à primeira década do século XX nos meses mais frios, posto que incidisse no período mais próximo (1911-1995), nos meses de Verão. Quanto aos menores de sete anos, no primeiro período, é esta última estação a mostrar-se mais inclemente, e nos anos subsequentes o frio é mais gravoso.

Os maiores de sete anos, com um período de estudo mais alargado no que concerne à sazonalidade da morte, revelam maior tendência para morrer até aos primeiros dez anos do século XX, na segunda metade do ano. Para o restante período, morre-se mais além dos meses de temperaturas mais agrestes, também em Abril e Julho.