Grupo de História das Populações

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Morais, António Rodrigues - Perseguindo um gene...Que caminhos? 1699-1899

António Rodrigues Morais, ao frequentar o Mestrado em História das Populações, tinha à partida um objectivo muito definido: explorar as potencialidades da metodologia de reconstituição de paróquias na despistagem, em longa duração, de uma doença geneticamente transmissível – a polineuropatia amiloidótica familiar (PAF).

As dificuldades e as dúvidas eram muitas, para António Morais e para mim própria, como Directora do Mestrado. Sabíamos que os registos paroquiais nos podiam fazer recuar quatro ou mais séculos, mas sabíamos também que a informação disponível nem sempre é sistemática, e, mesmo sistemática, nem sempre é satisfatória para a identificação pretendida. Com registos paroquiais de qualidade, aplicando a metodologia de reconstituição de paróquias, sabíamos que seria possível montar uma base de dados com o percurso de vida de cada indivíduo residente, em cadeia genealógica, e sabíamos que essa base seria muito importante para os objectivos em vista.

António Morais há três décadas que se aproximava de médicos e investigadores de uma doença que afectava a sua família. Conhecera o Doutor Corino de Andrade e conhecia a Doutora Alda de Sousa, que convidou para orientar o seu trabalho na especialidade. Abria-se, através dele, uma via de cruzamento entre duas especialidades, a Demografia Histórica e a Genética. As sessões de trabalho que se seguiram foram sempre enriquecedoras e estimulantes.

O trabalho foi-se definindo. Reconstituída a comunidade de Unhais da Serra, uma comunidade do centro interior, de onde eram naturais onze doentes registados no Centro de Estudos de Paramiloidose, no Porto, pacientemente, António Morais foi identificando e aprofundando o percurso de vida de cerca de seis centenas de antepassados desses doentes, ao longo de dois séculos. As análises comparativas a que procedeu entre a comunidade e essas famílias de risco constituem em si um enriquecimento tanto para a Demografia História como para o estudo da doença.

Talvez tenha chegado o momento de investigadores e responsáveis institucionais olharem para o significado do trabalho de António Morais, de aprenderem com a sua força e determinação, para uma procura interdisciplinar de problemáticas fundamentais que identifica neste trabalho, como o local e data em que terá surgido a mutação, sua unicidade e forma de dispersão do gene pelo espaço nacional.